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Normalizar a cadeirada é comemorar o revide no bolsonarismo de sapatênis

Desde a noite do último domingo (15), as deploráveis cenas do debate da TV Cultura entre os candidatos a prefeito de São Paulo, invadiram as redes sociais, grupos de whatsapp e o imaginário popular. Desde perfis como “Cadeira Antifascista” e comparações com a facada de Bolsonaro, a maioria reprovou a atitude do candidato José Luis Datena, ao mesmo tempo em que comemorou a cadeirada no coach Pablo Marçal.

Com a extrema direita dividida entre a torcida por Marçal e a veneração a Bolsonaro, mesmo nos perfis mais xiitas, o que se viu foram memes e comentários jocosos sobre o ataque, e mais ainda sobre a recuperação de Marçal. Entre uma ou outra reprovação, o que se viu foi a normalização da barbárie. Muito mais de “ele teve o que mereceu”, do que “Datena não deveria ter chegada a esse ponto”.

Durante o debate, logo após o ataque de fúria de Datena, ainda no calor da baixaria, os demais candidatos destacavam o destempero do candidato do PSDB, como um revide à provocação de Marçal. Como se jogar uma cadeira em outro homem em rede nacional, fosse a única saída para vencer o debate.

Marçal é uma ser humano abjeto, canalha, mentiroso contumaz e fascista de carteirinha. Poucas vezes o país produziu um candidato tão medíocre. Uma figura mesquinha que, em um país sério, sequer deveria ter a permissão para figurar entre candidatos a um pleito público. Pablo é um bandido condenado que construiu fama e fortuna enganando incautos e, tal qual um messias, promete uma vida longa e próspera para que como ele, bastou acreditar em si mesmo.

Quando a esquerda normaliza, comemora e abençoa a cadeirada de Datena, o sentimento que ela quere passar é de revide, vingança, e aí o amor passa longe dessa toada. É como se vingar dos constantes estelionatos sofridos por gente humilde, das surras da polícia em moradores da favela, ou dos políticos que roubam todos os dias na cara dura. É como dizer um “toma essa playboy! Aqui você não se cria”, e lamentar não poder fazer o mesmo.

Mas que a esquerda não se engane, e muito menos sinta-se representada por Datena. os dois nunca estiveram muito distantes. Nem politica e nem ideologicamente. São extremos de um mesmo pensamento. O Datena que lucrou durante anos com o jornalismo sensacionalista, e o coach que ficou milionário vendendo curso de como ficar milionário sem trabalhar.

Se Datena é a velha política recauchutada, Marçal é o chorume do neoliberalismo, o bolsonarismo de sapatênis, que se torna agora um desafio não só para a esquerda, mas até pra a direita clássica, já que nem o Novo ou o PL, conseguiram dar conta desse novo personagem que está roubando adeptos desses dois núcleos. Sem regras, batendo abaixo da linha da cintura e usando o mindset para “entrar na cabeça” de seus adversários, Marçal pode não vencer a eleição, mas desde já, alugou um triple na cabeça da direita, que não sabe se bate continência para o capitão, ou se veste a jaqueta da XP.

O pacifista Mahatma Gandhi disse certa vez que “olho por olho, e o mundo acabará cego”, e estamos caminhando para a cegueira absoluta, para a barbárie. A humanidade se mostra um experimento que não deu certo quando minimizamos a atuação de Pablo Marçal nessas eleições, ou normalizamos e comemoramos cadeiradas em rede nacional.

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